Exposição de abertura histórica do Instituto Iadê, São Paulo, SP - junho, julho e agosto de 2023

Boneco Transparente, 1996



Cortina de fitas de Bonecas, 2006 




Cogumelo Mágico, 2005

 

Os Bordados Fabulosos, 2023 - Paulo Herkenhoff

 Lia Menna Barreto: Os Bordados Fabulosos


Lia Menna Barreto é um ser das delicadezas. 

É uma aflitiva e cruel delicadeza, uma beleza da carne viva que marca o Real a ferro e fogo. “É fogo por um triz” como na linha melódica djavaniana. Ou, como no texto bretonisno, “la beauté será convulsive ou né sera pas” (“a beleza será convulsiva ou não existirá”).

Essas flores em buquês de cores cantantes carnais se multiplicam no espaço cravejado de rubis sintético de rara beleza. Carne viva, sempre, mas também cadáveres, pois, para o filósofo Marc Le Bot, toda flor cortada de seu pé é um cadáver - e, para ser cadáver precisou antes de ser “chair” e não “viande” nas diferentes acepções da língua francesa. Flores do Simbólico. Essas flores-carne foram emprestada por Lia Menna Barreto à sua arte, pois, como escreveram o poeta Paul Éluard e filósofo Maurice Merleau-Ponty o artista empresta seu corpo à sua arte.  Diga-se também, em continuidade das referências a Merleau-Ponty, que essa arte das delicadezas é da fenomenologia do “corpo vivido” (corps vécu no francês) e sendo vivido a ferro e fogo é das sensações do tato (a queimadura) e da dor. 

Para um capixaba como eu, Lia Menna Barreto erra em títulos de suas obras, pois aquelas são “Rendas de Taruíras” as ovíparas tramadas em renda ñanduti guarani como uma imensa cópula na véspera de acontecer. Esses ñandutis explodem em constelações de lagartixas imóveis à espreita de traças, mosquitos e olhares que, num rápido movimento tragarão suas vítimas. A arte, para esta Lia Menna Barreto, é o ofício de tragar olhares rápidos com uma irresistível avidez. Sua arte da espécie Hemidactylus manbouia pede ao olho curioso do não-capixaba a buscar na taxonomia zoológica para o significado daquele seu novo título. Passo a passo, a pequena zoologia imaginária de Lia Manna Barreto vai sendo montada como a Zoologia fantástica de Borges. São Bordados Fabulosos! Antes, já haviam sido cavalos-brinquedos que se articulam em expansão e contração em verde-amarelo (coleção Museu Nacional de Belas Arte), bonequinhas queimadas como crianças de Hiroshima, animais de pelúcia em sua jaula de carrinhos de brinquedo (coleção Museu de Arte do Rio) como uma arca-de-Noé do Gênesis e, agora, rendas e pizzas de bichos álgidos da cor de burro-quando-foge. São flores cantantes do Imaginário. Seus bouquets são povoados de flores-plumas que dão leveza de pluma ao pl

Lia Menna Barreto problematiza a malha moderna implícita no voile sintético e no sangramento das flores.


Paulo Herkenhoff,  2023


Bordados Fabulosos, 2023 - Galeria Clima PoA