A arte em bordados de Lia Menna Barreto
Rafael Gloria
A artista plástica
Lia Menna Barreto inaugura hoje o calendário de exposições de 2014 da
Galeria Bolsa de Arte (Rio Branco, 365), com a sua típica originalidade
na mostra Bordados. Autodidata, apesar de ter se formado no curso
de Artes da Ufrgs, Lia explora, nesse trabalho, o ato de bordar, que -
mais do que um enfeite ou um apetrecho qualquer - aqui também é
considerado um modo de contar uma história. Há relatos de que o bordado
seja tão antigo quanto a humanidade, e esse formato seria utilizado
pelos homens há muito tempo. “Na pré-história, já existiam bordados
feitos com pedacinhos de osso sobre couro”, conta.
E,
nessa série, os bordados contam uma história romântica. As dez peças
medem 135x135cm e falam de uma paixão que amadureceu e virou amor. Os
nomes das peças entregam os momentos. “Cada trabalho tem um título
sugestivo que reunidos dão dicas do ocorrido. Por exemplo, há o Passeio no parque, Amor antigo, Beijos, Moça de Taiwan, Eu te amo, Sim, Comigo, Flôres namorando, etc”,
explica. Na parte técnica, Lia buscou ampliar o conceito de Bordado,
produzindo fakes, ou seja, peças falsas. As obras, então, buscam simular
bordados feitos em organza (uma espécie de tecido fino) de seda pura,
mas utilizando materiais plásticos encontrados no mercado comum. Esse
tipo de trabalho tem origem em uma produção anterior da carreira da
artista, da década de 1990, intitulada Sedas. Nele, Lia mesclava
bonecas de plásticos com animais, flores e folhas também de plásticos,
fundindo-os com calor ao tecido de seda.
Sobre o
seu processo criativo, ela conta que se iniciou em 1996, quando fez a
primeira aplicação de plástico sobre seda para uma exposição no Rio de
Janeiro. “A penetração dos objetos de plástico nas tramas da organza de
seda pura se dá com a aplicação de calor feita com ferro de passar
roupa, dando origem ao bordado fake”, explica. Pode-se dizer que a
técnica de fundir objetos através do calor vem sendo utilizada e
desenvolvida pela artista há quase vinte anos, e se tornou sua marca
registrada. Um exemplo disso foi a sua participação na Bienal do
Mercosul de 2003, na qual todo trabalho consistia em um ateliê de
artista que esquentava e fundia animais de borracha com ferro quente.
A exposição Bordados também
contou com a cooperação especial de Fernanda Yamanoto, estilista de São
Paulo. “A participação dela foi muito interessante. Forneci o tecido
bordado com a minha técnica, e ela o modelou, fazendo um vestido com
ele”, diz. O título da obra a quatro mãos é Lagoa doce.
Entre
1993 e 1994, a artista viveu em São Francisco, nos Estados Unidos, e
estudou na Universidade de Stanford com bolsa concedida pelo programa
International Fellowship em Artes Visuais, da America Arts Alliance.
“Ganhei essa oportunidade, que me levou a visitar várias cidades
norte-americanas, além de conhecer importantes museus de arte e
galerias”, comenta. Depois, ela permaneceu trabalhando em um ateliê na
Universidade de Stanford, ao lado de artistas de lá. “Esse prêmio marcou
minha carreira, pois voltei para o Brasil cheia de experiências e
informações”, complementa. Em 1997, Lia expôs trabalhos na 6ª Bienal de
Havana, na Bienal de Los Angeles e na 1ª Bienal de Artes Visuais do
Mercosul, em Porto Alegre, da qual voltaria a participar em 2003.
Atualmente,
porém, Lia Menna está situada em Eldorado do Sul, cidade da Região
Metropolitana, com o marido e a filha. Para a artista, o que move a sua
produção não é a inspiração. “Quanto mais trabalho, mais tenho ideias.
Eu já lido há mais de 30 anos com arte e não tenho planos de parar: esse
ofício está entranhado dentro de mim”, finaliza.